Resenha de zagueiros: antes de final, jovem Murilo escuta conselhos de Clio Lcio, que participou de sua formao no Cruzeiro g383o

– Sou um jogador muito tranquilo, que pensa em cada jogo. No vou mentir, estou ansioso para a final. Todos os dias acordo e penso: ‘o dia da final no chega!’. No apenas eu, que sou mais jovem, como toda a equipe est ansiosa para essa partida. Acho que todos pensam em colocar o nome na histria do Cruzeiro. Isso a pode ajudar muito tambm. Com a f em Deus, que me tranquiliza, espero chegar quarta-feira e dar o meu melhor”.

– at legal ver o Murilo falando da preocupao. um bom comeo. Para ns que jogamos de zagueiro, a responsabilidade maior. Zagueiro, goleiro... costumo dizer que a caracterstica dos defensores e do goleiro tm de ser diferente dos demais atletas, pois so posies de mais responsabilidades. Essa preocupao de antecipar a questo do jogo importante porque haver uma preparao para isso. A ansiedade ser equilibrada at o momento que chega o jogo. Depois de cinco minutos de jogo, j vai mais tranquilo. Eu tive essa experincia no Cruzeiro. Com a idade do Murilo disputei final de Supercopa, de Copa do Brasil. um estgio pelo qual temos que ar.

Trabalhamos com o Murilo desde o pr-infantil e sabemos da capacidade que ele tem. um garoto equilibrado, que entrou e est buscando seu espao, mostrou personalidade. uma caracterstica muito importante para o zagueiro. Equilbrio, personalidade, seriedade. fazer o mais simples possvel. Primeiro, fazer a funo de zagueiro. Depois, se der para sair jogando bem como ele tem qualidade, pode sair. As demais situaes vo acontecer naturalmente.

Na preparao para uma final, o que a gente tem que fazer treinar bastante, estudar o adversrio e focar muito. Deciso corpo, alma e esprito. Tudo junto para que a gente chegue na hora e cumpra as nossas funes.

* Nota: Clio Lcio disputou a primeira final pelo Cruzeiro em 1992. Ele e Luisinho formaram a dupla de zaga do time que superou o Racing-ARG na Supercopa da Libertadores.

– Eu j estava com 22 anos. Fazia dupla de zaga com Luisinho. Tinha feito com Paulo e Adilson. Naquela final coincidiu de o Luisinho estar suspenso. Acabou entrando o Robson numa situao parecida com a do Gladstone em 2003. Mas o Robson estava preparado. E eu, que tinha absorvido um pouco da experincia do Luisinho, do Paulo e do Adilson, pude ar um pouco da experincia para o Robson. Ele estava preparado para aquela partida. Tudo correu bem e ele conseguiu se afirmar.

* Nota 1: Luisinho recebeu carto amarelo "por engano" no jogo de ida da final da Copa do Brasil, que terminou empatado sem gols, no Olmpico, em Porto Alegre. A falta havia sido cometida pelo volante Rogrio Lage. Por isso, o ento "garoto" Robson, de 18 anos, atuou ao lado de Clio Lcio no segundo duelo, no Mineiro. O Cruzeiro ganhou do Grmio por 2 a 1.

* Nota 2: No jogo de volta da final da Copa do Brasil de 2003, contra o Flamengo, o Cruzeiro teve de recorrer ao jovem Gladstone, de 18 anos, pois perdera Thiago e Edu Dracena por suspenso na partida de ida no Maracan (empate por 1 a 1). O prata da casa no sentiu a presso da deciso e teve atuao segura ao lado de Luiso, quatro anos mais velho. A Raposa ganhou por 3 a 1 e conquistou o tetracampeonato.

– Na final no tem como. diferente. onde todo time quer chegar para ser campeo. A gente trabalhou todo esse tempo na temporada para chegarmos final. Graas a Deus fomos premiados de chegar final. Como voc falou, eu ei pelas quartas e pelas semifinais, ento fico um pouco mais tranquilo, no foi que nem os outros (que estrearam na final). Mas a final diferente.

– Acho que foi a conversa. A gente vem conversando muito. Sabamos que estvamos ando por um perodo ruim, estvamos tomando muitos gols, ento conversamos muito. No s o Leo, como Ded e Manoel. Somos ali do setor e no gostamos de tomar gols. Atravs da conversa at de outros que esto ali na frente fez a diferena e foi fundamental para reduzir o nmero de gols sofridos.

* Nota: juntos, Leo e Murilo jogaram 18 partidas em 2017. O Cruzeiro ganhou oito, empatou seis e perdeu apenas quatro. Foram somente 10 gols sofridos.

– Eu cheguei quase junto com o Murilo na base. Ele chegou, se no me engano, em 2010. Eu cheguei em 2011 no pr-infantil. O treinador dele era o Hudson quando nos encontramos pela primeira vez. O Murilo era volante. Foi um estgio legal. Murilo ou por todos os processos da base. Tivemos mais convivncia no sub-20. Por eu ter sido zagueiro, h uma facilidade maior de dilogo e compreenso dos meninos comigo tambm. Hoje a gente tem o Arthur, tivemos o Bruno (Viana), o Alex, o Wallace – que foi vendido. Os meninos assimilam muito bem o que a gente quer ar para eles como experincia que a gente j teve e com certas situaes que vo acontecer nas carreiras deles tambm. Com o Murilo no foi diferente. O Murilo tem um potencial muito tcnico, tem o perfil fsico muito bom, e aquela fase de transio e amadurecimento foi normal. Fez grandes jogos e competies boas na base. Tivemos uma leitura muito boa de que ele conquistaria espao no profissional. E ficamos surpresos, pois ele conquistou at rpido. Sempre amos para ele ter humildade e subir degrau por degrau, pois a carreira difcil. Jogar numa equipe como o Cruzeiro, com cobrana alta e presso da torcida, muito difcil. Mas o Murilo tem personalidade forte e um equilbrio muito bom. Deus vai abenoar que ele chegar num patamar alto na carreira.

– Muito bom. At falo com outras pessoas, no diretamente para ele. Mas sempre elogio o Clio para outras pessoas. Ele fez parte de grande parte dos momentos que ei na base. Por exemplo, no pr-infantil, muitos jogadores no sabiam cabecear. O Clio ajudou todo mundo, fez milagre com todo mundo (risos). Quando eu estava no jnior, ele pde me ajudar muito dentro de campo e fora de campo tambm. Sempre conversou comigo e eu peguei todos os detalhes do que ele queria ar para mim. isso que faz a diferena.

– Isso tambm legal, n?! Mostra a humildade dos meninos. O Arthur tambm acabou de subir para o profissional. Quando eles tm a humildade de receber uma palavra e uma orientao e a voc os v crescendo, importante. Significa que temos algo de bom para ar para eles. Da mesma forma essa humildade de receber, colocar em prtica e dar certo. gratificante para a gente. O que eu costumo dizer que no foi apenas eu, Clio Lcio. Todos na Toca participaram da formao desses jogadores. O privilgio foi grande para mim porque fui um zagueiro vitorioso no Cruzeiro. Fico feliz de os zagueiros estarem dando certo. Mas a entram os treinadores, o pessoal da cozinha, da manuteno do gramado, todos so importantes para a formao desses garotos. E a gente v isso quando eles retornam aqui e mostram o carinho por cada um. Todas essas questes juntam e a gente v o bom resultado no profissional.

– Nunca pensei, nunca imaginava que ia acontecer isso to rpido. Mas, como falei, sempre tive minha f e acreditei que Deus faria a diferena. Foi com muito trabalho, muita dedicao, muitos treinos, muitas conquistas... graas a Deus estou tendo a oportunidade de participar da final da Copa do Brasil.

* Nota: com apenas dois jogos no primeiro semestre, Murilo ganhou espao a partir de junho em funo das ms atuaes do equatoriano Kunty Caicedo. Em funo do bom futebol apresentado, o camisa 35 no saiu mais da equipe e contrbiuiu at mesmo para a evoluo de Leo, seu companheiro de zaga.

– Sem dvidas a tcnica. Tem um e bom, uma boa antecipao, uma boa leitura de jogo, um perfil fsico que ajuda. agressivo na marcao. Sabe ar a bola tanto em longa distncia quanto no e entre linhas. Acho que isso ajuda muito o Murilo, principalmente pela tendncia do futebol, que exige sada de bola boa. Claro que a funo de zagueiro defender, antecipar bem, ter liderana e personalidade forte. O Murilo tem tudo isso tambm. Vai haver maturao, e essa maturao vem muito cedo. A tendncia evoluir a cada jogo.

– Todo mundo sabe do elenco que a gente tem. um elenco muito bom. No vieram as vitrias no Campeonato Mineiro e na Sul-Americana, mas a gente teve humildade e soube trabalhar. Por isso chegamos final da Copa do Brasil. Com muito trabalho e com muito empenho. continuar com a humildade, entrar na quarta-feira com sangue no olho e representar a nao azul.

– Voc s tem dimenso disso quando fica mais velho. Depois de 20 anos, 25, chega um torcedor e te abraa, diz obrigado, fala que voc deu a ele muita alegria. No tem preo. Um ttulo de Copa do Brasil marca a carreira, marca o ser humano, no tem preo. No h dinheiro que pague. uma sensao nica. Estou confiante de que o Cruzeiro far um grande jogo e conseguir a vitria.

– O Flamengo tambm est pressionado. O parmetro de presso est igual. At d um certo conforto e uma confiana maior ao Cruzeiro, que conseguiu um empate fora de casa e agora vai decidir no Mineiro.

– Todo mundo est me cobrando esse gol. Mas estou confiante de que vai sair nessa final. Tenho f que possa sair. Se sair, vou agradecer ao Clio, que desde o pr-infantil me ensinou a cabecear.

* Nota: Murilo mede 1,88m e um dos zagueiros mais altos do elenco. Apesar disso, aparece pouco na bola area ofensiva.

– Engraado que, como profissional, fui fazer o primeiro gol depois de seis anos. Murilo est tranquilo, pois est no primeiro ano (risos). O Alberto Rodrigues (narrador da Rdio Itatiaia) ficava me cobrando demais e eu fiz um gol contra o Corinthians na semifinal da Copa do Brasil (de 1996). Mas como o Murilo disse, tem que ficar tranquilo para fazer o dele atrs. O gol vai sair na hora certa.

– Acontece muito isso. As pessoas mandam mensagens, falam que esto torcendo, isso bom para a gente, que veio de uma cidade humilde e pequena. Vou estar representando So Gonalo dos Campos.

– Sempre d. o normal. Tem que vir o frio na barriga, a ansiedade. Mas quando pisamos l, estamos em casa. o que fazemos todos os dias. Vou dar o meu melhor...

– Foi um processo complicado, longo e difcil. Com sete ou oito anos no tinha mais escolinha na minha cidade. Eu tinha que ir para outra cidade e conseguir jogar bola e fazer a coisa que eu mais queria. Saa sozinho de minha casa, ia l treinar, foi um momento muito difcil. Coloco tudo isso que ei todos os dias na minha vida para estar aqui hoje. Por isso no vai faltar entrega e nem luta. Vou zagueirar, vou dar carrinho, tenho que dar o meu melhor.

– Na verdade eu jogava de meia. Cheguei aqui e virei volante. Foi muito do tamanho (a recuada). Era menorzinho e depois cresci muito rpido. Com 12 ou 13 anos j tinha 1,80m (hoje mede 1,88m). A no teve jeito, virei zagueiro.

– No pr-infantil o Murilo era volante e capito. Fiquei por dois meses l com ele e depois subi para assistente do time jnior.

– Com certeza. Voc o v arrastando a bola, uma facilidade que ele tinha como volante. Quando ele quebra a linha com um e, facilita. A leitura facilita. O Murilo tem muito que crescer na parte defensiva. Como maturao precisa de algumas situaes, mas vai evoluir naturalmente. com o decorrer dos jogos. A tendncia que cresa muito.

– Foi uma coisa boa de tudo que eu vinha fazendo. Desde o comeo, contra o ville (Primeira Liga), mas principalmente contra o Bahia (no turno do Brasileiro). Foi com muito suor, com muito trabalho, fiquei feliz. legal para a minha vida, para a minha carreira. Como o Clio mesmo falou, tenho muito que conquistar, muito que crescer. Meu pensamento assim, de me avaliar mesmo, de querer estar sempre melhor a cada jogo, a cada treino. Fico feliz pela renovao, mas tenho muitas coisas para conquistar.

– Foi uma conversa dos dois. Como j tenho muito tempo aqui, foi tranquilo.

– at legal, viu? Estou precisando de um vale (risos). Brincadeira.

– O que aconteceu na semifinal foi que eu tambm pedi para bater. Ele viu que eu batia bem nos treinamentos, no s no profissional como na base. No tive a felicidade de fazer o gol, mas mantive a cabea erguida. Continuei trabalhando. Se acontecer na final, sou um jogador de personalidade. Se acontecer, estou pronto para bater de novo.

– Nunca perdi um pnalti. Nunca bati! Na Supercopa de 1992, ns fomos para os pnaltis contra o River (quartas de final). Eu era o sexto a bater... a voc imagina... 3 a 3, 4 a 4. A o Ramn Daz foi bater para o River e perdeu o pnalti. O Douglas foi l e marcou para ns, ganhamos de 5 a 4. Mas imagina como minha cabea estava? Como dizem na base, ‘o fraldo ficou cheio!’. um momento no qual voc tem que estar equilibrado. Cada jogo um jogo. Claro que a questo do treinamento. O Murilo era o primeiro a bater na base e nunca teve problema. Mas vai muito do momento em que voc est na questo psicolgica do jogo.

– Todos so importantes no elenco. Os reservas podem entrar e decidir. No h como responder.

– Acho que o Guerrero. um atacante bom, que protege bem a bola. um jogador diferente, que pode nos dar uma grande preocupao. Mas penso que no pode olhar s o adversrio. Tenho que olhar para mim, querer, aprender e evoluir cada vez mais. Eu crescendo vou poder marc-lo. isso que importa.

– um perfil diferente. Guerrero um atleta competitivo, que define partidas e tem qualidade para isso. O que a gente a que temos de preparar o mximo nesses dias que faltam. tentar estud-los, pegar vdeos para ver como que ele usa o corpo, com qual perna ele bate – a direita –, tomar precaues para entrar ao mximo possvel preparado para neutralizar. J tive a oportunidade de jogar contra atletas como Bebeto, Edmundo, Romrio, Svio, Luizo... jogadores com caractersticas difceis de marcar. Tem que estar ligado o tempo todo, concentrado e preparado para neutralizar.