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DIA DA CONSCINCIA NEGRA 5a4f5k

Conscincia negra: o (pouco) espao do negro no jornalismo esportivo u5my

O jornalismo esportivo nada mais do que uma amostra da realidade brasileira, em que negros raramente ocupam espaos de destaque 253x6e

postado em 20/11/2019 07:01 / atualizado em 19/11/2019 23:09

(Foto: Reprodu
Quem, como o reprter que vos escreve, nasceu nos ora longnquos anos 1980, lembra-se de, basicamente, trs pessoas negras na televiso: o Mussum e dois meninos que saam de dentro da a, cantando “levanta, Maria, acorda, Manoel”. ados mais de 30 anos, essa realidade pouco mudou. A televiso brasileira, uma das poucas opes de entretenimento de massa para vrias geraes, por isso, celeiro de “referncias” para a crianada, ainda um “mar branco”, como afirmou recentemente o narrador Jlio de Oliveira, do Sportv, referindo-se s redaes do jornalismo esportivo.

Alm de Jlio, h apenas outros quatro negros com aparies constantes no canal. Na ESPN Brasil, so sete. E na Fox Sports, dois.

Sem diploma, sem trabalho 3q466k

O jornalismo esportivo nada mais do que uma amostra da realidade brasileira, em que negros raramente ocupam espaos de destaque, cargos de chefia e postos de comando, seja nas grandes empresas, no servio pblico ou nos altos escales da poltica e da Justia.

Desde 2009, aps deciso do Supremo Tribunal Federal que considerou inconstitucional o art. 4, inciso V, do Decreto-Lei n 972/1969, o exerccio profissional do Jornalismo no Brasil pode ser realizado mesmo que a pessoa no tenha graduao acadmica. Entretanto, os grandes veculos de comunicao raramente contratam para seus quadros pessoas que no tm diploma superior.

Portanto, poderia se dizer que o baixo qurum de negros no meio jornalstico tem relao com a j conhecida dificuldade de o ao ensino superior. Contudo, esta no a nica causa.
Segundo o IBGE, o termo “negro” abrange pessoas “pretas” e “pardas”. Apesar de o Brasil ser um pas de maioria negra – 50,74% segundo o ltimo censo, sendo 7,61% pretos e 43,13% pardos – essa parcela da populao no representada em setores sensveis da sociedade.

No ensino superior, por exemplo, os negros so apenas 32,64%, segundo o Censo do Ensino Superior de 2018, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (Inep).

Portanto, analisando os nmeros do o de negros s faculdades e universidades, pode-se afirmar que sua presena diminuta no ensino superior uma das causas de haver poucas pessoas negras tambm em postos de destaque no mercado profissional – situao que se verifica tambm no meio jornalstico, sobretudo o televisivo. Mas no a nica.

Outras causas alm do diploma 2l2l37

O preconceito e a discriminao racial so chagas presentes na sociedade brasileira, em diversos segmentos da sociedade. Costumeiramente, o negro associado – de maneira automtica – a atividades negativas e at criminosas.

Segundo a jornalista Sara Raquel Pinheiro Portal, na obra A Cor da Mdia Televisiva, de 2016, o eurocentrismo (ter a Europa como referncia cultural e social) evidenciado em programas televisivos jornalsticos ou no, e isso se reflete na mudana de comportamento de crianas, jovens e adultos. Para a autora, as principais emissoras de TV detm de forma intencional o padro europeu de jornalistas para a apresentao de telejornais, por exemplo, que se baseiam em cor, traos fsicos e textura dos cabelos. o que chamamos de embranquecimento miditico.

A realidade a mesma nos setores governamentais. Dos 513 deputados eleitos em 2018, apenas 125 (24,3%) se declaram negros.

Nas empresas, o quadro se repete. De acordo com estudo denominado Perfil Social, Racial e de Gneros das 500 Maiores Empresas do Brasil e suas Aes Afirmativas - elaborado pelo Instituto Ethos em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento - o total de negros nos postos de comando no setor privado o seguinte:

Conselho de istrao: 4,9%
Quadro Executivo: 4,7%
Gerncia: 6,3%
Superviso: 25,9%

Mas como definir quem negro? 6w2b4d

Os dois ltimos censos realizados pelo IBGE (2000 e 2010) trouxeram quatro classificaes tnicas, nesta ordem: branca, preta, amarela, parda e indgena.

O rgo utiliza duas metodologias diferentes para identificao tnica das pessoas. Um deles a da autodeclarao, mtodo por meio do qual o prprio sujeito da classificao escolhe o grupo do qual se considera membro. O segundo a heteroclassificao quando a atribuio de uma categoria tnico-racial a algum, escolhida por outra pessoa.

Em registros istrativos, como certides de nascimento ou de bito, a cor do indivduo sempre definida por heteroatribuio, em razo da bvia impossibilidade de se entrevistar a pessoa que est sendo classificada.

No recenseamento do IBGE, embora a instruo seja para colher a informao sem intervir ou influenciar a escolha do entrevistado, a utilizao do mtodo da autoidentificao nem sempre possvel. Isto porque nem sempre todas as pessoas do domiclio so entrevistadas. Algumas podem no estar na residncia no momento da visita do recenseador, ou no podem responder por falta de capacidade, como crianas e pessoas com deficincia.

Nesta matria, diante da impossibilidade de se entrevistar todos os jornalistas objeto da anlise, a categorizao ser realizada pelo mtodo da heteroatribuio, tomando por base o fentipo (caracterstica aparente ou observvel de um indivduo, determinada pela interao de sua herana gentica) dos profissionais.

Televiso preta e branca 1j3xx

Para limitar o objeto da reportagem, sero analisados os jornalistas que ocupam posies de destaque. Isto , aqueles que apresentam e conduzem programas jornalsticos, bem como os que compem suas bancadas permanentes.

No ltimo dia 12, Jlio de Oliveira, nico narrador negro do Sportv, deu um depoimento contundente sobre a falta de espao dos negros no jornalismo esportivo.



“ uma coisa que incomoda, porque voc v brancos discutindo temas de negros, exatamente pela falta de representatividade do nmero de negros participando. A gente olha para a nossa redao aqui atrs e um mar branco. S que a gente trata de um segmento, que o esporte, que a essncia negra. No futebol, o grande o negro. No basquete, os maiores da histria, negros. No tnis de elite feminino, negras. Ns acabamos de ter um negro em outro esporte de elite, hexacampeo mundial no automobilismo. S que para discutir esporte, so brancos. Est errada a participao na essncia que vem da base. estrutural, de sociedade, um pouco do Estado. Mas ns aqui, como formadores de opinio, precisamos ser um pouco mais agentes de transformao”, afirmou o jornalista.

Para corroborar as afirmaes de Jlio, estavam ao seu lado na bancada outros trs jornalistas – todos brancos.

(Foto: Reprodu


No Sportv, canal esportivo do Grupo Globo, entre todos os apresentadores e comentaristas, h e apenas 1 preto (o ex-jogador de futebol Grafite). Na reportagem do canal, Dbora Gares e Diego “San” Moraes so os nicos representantes.

(Foto: Reprodu


Na Fox Sports, apenas Abel Neto e Karine Alves ocupam posio de destaque.

Um levantamento realizado em junho deste ano, mostrou que a disparidade tambm est presente na ESPN Brasil. Na emissora os nmeros so os seguintes:
  • 108 Brancos: 15 apresentadores; 12 reprteres; 14 narradores; 67 comentaristas
  • 7 Pardos: 2 apresentadores (Felipe Flix e Marcela Rafael); 5 comentaristas (Alex, Breiller Pires, Carlos Alberto de Simone, Osvaldo Maraucci e Ricardo Bulgarelli)

  • 7 pretos: 1 narrador (Cledi Oliveira); 6 comentaristas (Amoroso, Csar Sampaio, Djalminha, Diogo Silva, Renato Rodrigues, Servlio de Oliveira).

  • 3 Amarelos: 1 apresentador (Alex Tseng); 2 comentaristas (Lyanne Kosaka e Sidney Arakaki)


E o nosso umbigo?

Por questo de convenincia, oportunidade e autocrtica, tratamos de analisar tambm a redao jornalstica do portal Superesportes e da editoria de esportes do jornal Estado de Minas.

Teoricamente, aqui no haveria motivos para observar padres estticos que regem os veculos televisivos – por razes bvias, pelo fato de os jornalistas terem pouqussima exposio de seus rostos.

Porm, o desenho tnico-racial dos profissionais da redao segue a regra dos demais veculos analisados no presente trabalho.

Ao todo, so 19 profissionais na redao, responsveis pelas verses impressa e on-line do Superesportes, e a diviso se d da seguinte maneira:
  • 2 editores (brancos);
  • 2 subeditores (1 branco e 1 parda);
  • 12 reprteres (9 brancos, 2 pardos e 1 negro)
  • 1 infografista (branca);
  • 2 estagirios (brancos)

    O nico preto da editoria o que vos escreve.

    (Foto: Arquivo pessoal)

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