
Arthur comia a bola no mesmo Grmio. Podia ser o titular do meio-campo da Seleo na Copa do Mundo de 2018. Sequer foi chamado. Transferiu-se para o Barcelona, e nem bem havia se apresentado ao clube catalo, j o apontavam como a salvao. Pulou de esquecido a titular, sem pit stop. Vamos parar de ofender os vira-latas.
Na Copa de 2014, o goleiro titular era Jlio Csar. Aos 34 anos, jogava no Toronto FC, do Canad. Jefferson, do Botafogo, era o reserva. Victor, So Victor, a terceira opo. Se o Toronto FC disputasse o Campeonato Mineiro, ia brigar para no cair. Victor tinha ganhado uma Libertadores no ano anterior, pegando o que pegou. Era, seguramente, um dos melhores do mundo. Jefferson talvez figure no Botafogo de todos os tempos. Mas o titular, claro, era o cara do Toronto. E gol da Alemanha.
A Seleo Brasileira que disputa a Copa Amrica um time sem alma. Ganhou de cinco do Peru, que todos imaginavam poderia endurecer mas deu mole (perdo, piadas com o Peru so to tolas quanto irresistveis). Foi eficiente e bonito, empolgante e um tanto nostlgico. Mas, sabemos, foi tambm a exceo. A regra, faz tempo, a do conjunto vazio, do escrete insosso e desalmado, burocratas espera das seis badaladas, quando cai a caneta.
Parte disso vem da absoluta desconexo entre time e torcida. Quem so aqueles 11 caras correndo atrs da bola? Sim, jogam em times grandes – ou mdios – da Europa. Isso no os exime de ser uma espcie de Carlos, Manoel e Rodrigo, os atletas fictcios dos clubes brasileiros no videogame da Fifa. Ningum quer jogar com eles.
Aos vira-latas (pobres vira-latas, mais altivos que muitos rotweillers), lembremos que o Brasil penta. E que desses cinco ttulos, pelo menos quatro ganhamos com os jogadores dos nossos clubes. Na celebrada Seleo de 1982, um gol do der era um gol do Galo – e ento o Atltico e a Seleo se misturavam numa paixo ensandecida, e penso agora no quanto chorei aquela derrota para a Itlia, quanta lgrima enxuguei naquela camisa amarela. Hoje, isso parece uma piada. Ningum liga. E a camisa amarela virou o que virou, smbolo do que .
Contra o Paraguai, o time sem alma voltou ao seu normal. Oposto do que se viu na Seleo feminina, desfilou sua falta de tudo, de vontade, de talento, de tcnica e de tcnico. A nica exceo era verton, o brasileiro que dribla como o brasileiro, segundo o comentarista, pronto para deixar de s-lo. Pelo menos a torcida por ora esqueceu do “brasileiro com muito orgulho, com muito amor”, j uma vitria.
Verdade que enfrentamos um ferrolho danado. Se o Paraguai tivesse esta defesa quando fez a guerra com o Brasil, o Uruguai e a Argentina, hoje o continente abrigaria os Estados Unidos do Paraguai, decacampeo do mundo, ttulos celebrados em piscinas de Black Label a preo de banana. Ainda assim, a retranca paraguaia parecia mais autntica do que o jogo do Brasil, uma falsificao daquilo que um dia foi a verso original de Barcelonas, Reais e quetais.
Que venha a Argentina, outro desalmado, embora nem tanto. J aviso que torcerei sempre para Otamendi, o Otamonstro. Brasil acima de tudo, Galo acima de todos!