
Numa poca em que o futebol no era movido pelos altos cifres, o clssico mineiro j agitava Belo Horizonte, fosse no Estdio Antnio Carlos, Alameda ou mesmo no Campo do Barro Preto, casas de Atltico e Cruzeiro nas primeiras dcadas do sculo XX. O ponta-direita Nogueirinha e o ponta de lana Vav so testemunhas importantes do surgimento dessa rivalidade quase centenria. Jogadores mais experientes dos clubes ainda vivos, ambos lembram com emoo dos anos dourados em que eram protagonistas do emblemtico confronto estadual.

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Em quatro anos no Galo, de 1949 a 1953, o ponta de lana fez parceria de sucesso com um dos maiores dolos da histria do clube na era pr-Reinaldo: o centroavante Ubaldo. Vav conta um episdio triste e marcante que viveu ao lado do parceiro. “Teve um jogo em 1953 em que precisvamos vencer para enfrentar o Siderrgica na final. Mas o pai do Ubaldo faleceu um dia antes do jogo. Pedimos para o Yustrich para que ele fosse poupado. Mas ele no aceitou. E o Ubaldo, em luto, fez uma das melhores partidas e me lanou para eu fazer o gol da vitria. Foi algo inesquecvel”.
Naquele tempo, a rivalidade entre Atltico e Cruzeiro existia, mas a amizade entre os atletas era grande. “Ns, jogadores do Atltico, ramos ligados aos jogadores do Cruzeiro Sabu, Geraldo II, Lazarotti, Chiquinho, amigos da gente. Nos encontrvamos no Bar Marrocos, na segunda, dia de folga, na Praa Raul Soares. ramos amigos, mas cada um queria ganhar o jogo”. Vav deixou o futebol aos 23 anos, por causa de um erro mdico, que diagnosticou um problema cardaco inexistente, e se tornou delegado da Receita Federal. Em 1997, foi diretor de futebol do Atltico.

CLSSICOS DE BRIGA
Nogueirinha, de 97 anos, mais antigo ainda, tendo atuado entre 1940 e 1947, na transio do antigo Palesta Itlia para o Cruzeiro. O ponta-direita marcou oito de seus 49 gols pela Raposa em clssicos contra o Atltico, ao qual se refere como “grande rival”. “Jogos contra o Atltico sempre paravam a cidade. s vezes, dava at briga”. “Tinha um tal de Bigode que tentava me marcar e no conseguia me pegar de jeito nenhum”, afirma, referindo-se ao ex-lateral-esquerdo que defendeu o alvinegro entre 1941 e 1943 e fez histria com a camisa do Fluminense, pelo qual disputou quase 400 partidas.
Considerado jogador exemplar dentro e fora de campo, Nogueirinha tambm fez amizade com os atletas do Galo, como o goleiro Kafunga. “Tinha muita amizade com o Kafunga. No sei o por qu, mas ele gostava muito de mim. Um dia perguntei a ele: ‘Por que seu apelido Kafunga?’. Ele respondeu: ‘ que eu no respirava direito, ento, quando corria, ficava cafungando. A ficou Kafunga’. Ele gostava de mim”. Fluente em ingls e com conhecimento em italiano, o jogador teve o mesmo destino de Vav e encerrou a carreira aos 27 anos para se dedicar a atividades profissionais na rea de contabilidade e como tradutor.